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DS Entrevista: Johnny Brito, CEO da Comba Telecom

Por Gustavo Zuccherato

Buscamos entender as particularidades que levaram essa tradicional fabricante de infraestrutura para telecomunicações a entrar no mercado de segurança com uma solução de reconhecimento facial

Há mais de 20 anos atuando como fabricante de infraestrutura para telefonia fixa e móvel, a Comba Telecom expandiu seus horizontes no começo de 2019, apostando no mercado de controle de acesso e segurança com o lançamento global do seu sistema de reconhecimento facial ScanVIS. Entenda as particularidades da solução e como a companhia enxerga o mercado nesta entrevista exclusiva com o CEO da empresa no Brasil, Johnny Brito.

Digital Security: Por que a Comba resolveu entrar nesse segmento de segurança e controle de acesso?

Johnny Brito: Começou como uma necessidade interna, já que nós vínhamos de um turnover de funcionários em nossas unidades fabris. Era uma necessidade de controle de acesso e de identificação precisa se um funcionário tinha permissão para estar em determinada área de nossas fábricas.

Além disso, as vezes, o funcionário passa o seu cartão de acesso e vai conversar em paralelo em outra área que ele não tem permissão para estar. Então a implementação da tecnologia de reconhecimento facial também veio para melhorar nossa produtividade, que é uma exigência do mercado.

O que era um pequeno projeto interno de continuação do desenvolvimento tecnológico, acabou chegando ao ScanVIS, um produto que o mercado de segurança teve a oportunidade de conhecer nas feiras do setor realizadas recentemente. 

Apostamos na tecnologia de reconhecimento facial porque ela permitiu fazer o controle de acesso e melhorar a produtividade em nossas fábricas

Digital Security: Por que começar com o reconhecimento facial?

Johnny Brito: Nós já tínhamos em nossas unidades fabris a parte da biometria digital, mas isso não nos permitia determinar se aquele funcionário, naquele determinado horário, estaria se movendo dentro dessa unidade fabril. A evolução para a  identificação facial permitiu controlar esse aspecto de forma muito mais dinâmica e mais transparente para o funcionário. 

O funcionário sabe que ele tem que ficar em uma linha de produção e não pode se mover para outra linha de produção naquele horário porque isso impacta em nossa produtividade, então acabamos caminhando para essa tecnologia que permitiu não só fazer o controle de acesso, mas também melhorar a nossa produtividade. 

Digital Security: Por que a Comba resolveu desenvolver o reconhecimento facial internamente e não apostar em uma solução já disponível no mercado?

Johnny Brito: Em primeiro lugar pela precisão. Quando começamos a desenvolver isso internamente, percebemos que, no mercado, a precisão do algoritmo e a formatação das soluções não nos atendia e sempre havia alguma lacuna. 

Um exemplo é um simples condomínio, onde você poderia fazer o controle de acesso por reconhecimento facial utilizando um banco de dados de, talvez, até 5.000 registros. Quando avaliamos o mercado, nós encontramos soluções formatadas ou para banco de dados muito grandes ou muito limitados.

Além disso, quando se faz o reconhecimento facial, é preciso garantir uma certa precisão. Recentemente, vimos cidades como São Francisco (EUA), proibindo o reconhecimento facial devido a alguns erros na hora da identificação das pessoas. 

O ScanVIS consegue ter uma precisão de 1:100.000, ou seja, a cada 100 mil registros, há apenas uma falha na identificação. É um índice altíssimo, de 99,9999%. No mercado, não tínhamos esse tipo de produto com o preço mais acessível. Isso até existia para área de governo, de segurança pública, como imigração, por exemplo, mas para a área residencial e empresarial, não havia um produto com esse tipo de tecnologia e precisão. 

O ScanVIS pode ler, simultaneamente, N faces e consultar N bancos de dados para checar se aquela pessoa que está sendo identificada está realmente sendo procurada

Digital Security: Além desses diferenciais, como a solução ScanVIS da Comba se configura e quais outras particularidades em comparação à outros sistemas de fabricantes e desenvolvedoras já tradicionais do mercado de segurança?

Johnny Brito: Temos produtos formatados para diferentes segmentos. Para controle de acesso, temos produtos que vão de 5 mil, 10 mil, 30 mil ou até 100 milhões de registros. São produtos segmentados de acordo com a demanda do cliente.

Grandes corporações e indústrias que possuem números superiores a 100 mil funcionários podem ser atendidos por nossa solução de reconhecimento facial, mas também temos produtos para um simples condomínio residencial. Hoje, conseguimos atuar com a mesma precisão do algoritmo, diferenciando a quantidade de registro que cada equipamento suporta. 

A solução é dividida em três frentes: o ScanViS ID, que controla acesso, presença e reconhecimentos VIP, o ScanViS Display, que utiliza dados do público para exibir anúncios segmentados e mensagens, e o ScanViS Analyze, que rastreia dados do público, como idade, gênero, expressões e tráfego, por meio de reconhecimento facial. 

Para a parte de segurança, temos produtos para aplicações diversificadas, como os totens GateGuard e o GateGuard Lite, que podem ser aplicados em condomínios residenciais e comerciais; o SIS, que agrega a utilização de câmeras, óculos inteligentes e aplicativos móveis em nossa solução de reconhecimento facial; e o CamGuard, que detecta até 10 faces em uma única cena, identificando alvos e atualizando acessos em tempo real através de dispositivos móveis, além de uma maleta que pode agregar todos esses produtos para aplicações temporárias em ambientes que demandam esse tipo de solução, como um estádio, por exemplo.

São produtos bem segmentados, desde uma aplicação bem simples, onde você tem uma capacidade de ler um banco de dados bem pequeno, até 100 milhões de registros, com capacidade de comparação N-para-N.

Para formatar essa solução, precisávamos enfrentar o desafio de lidar com a quantidade de falsos-positivos que podem acontecer em uma solução de reconhecimento facial. Isso é custoso em recursos, energia e tempo do agente de segurança para seu deslocamento para atender esses falsos-positivos, além do constrangimento e da insatisfação da pessoa que foi abordada sem necessidade.

Por isso, o que sempre prezamos, monitoramos e buscamos é a precisão do algoritmo. Nós conseguimos ler, simultaneamente, N faces e consultar N bancos de dados para checar se aquela pessoa que está sendo identificada está realmente sendo procurada e precisa ser acompanhada ou abordada de uma maneira um pouco mais detalhada pelos agentes de segurança.

Digital Security: Como vocês estruturam a companhia para atender essa nova linha de atuação e disponibilizar o ScanVIS para o mercado?

Johnny Brito: Trabalhamos de forma direta em alguns projetos bem específicos, principalmente quando está relacionada a segurança pública, onde você tem questões de bancos de dados que são muito sensíveis. Por outro lado, quando as informações de bancos de dados são menos sensíveis, trabalhamos também com distribuidores e com integradores,a depender do tipo de segmento que vamos atuar.

Quando você vai para a área de utilities, por exemplo, há integradores especializados que já estão há bastante tempo trabalhando nessa área com nossa ferramenta, assim como na área de condomínios e residências, que chamamos de property.

Digital Security: Como a Comba vai atuar para trazer mais conhecimento e maturidade ao mercado no que tange a tecnologia de reconhecimento facial?

Johnny Brito: Estamos participando das grandes feiras do setor, junto com a mídia especializada e com apresentações, além de oferecer provas de conceito para os nossos clientes. 

A ideia é tentar mostrar que o reconhecimento facial é uma tecnologia altamente confiável, que é a evolução da identificação via impressão digital e que, hoje, tem um preço mais acessível, que não foge da curva de investimento tecnológico. Hoje, vamos em grandes homecenters e já podemos comprar uma fechadura eletrônica para nossa casa que tem a identificação por biometria de digital. O que queremos mostrar é que, com um pouco mais de investimento, talvez algo em torno de 20%, você já receberia uma tecnologia que é muito mais segura e que tem muito menos chances de ter fraude, já que temos a função Live para garantir que aquele rosto não é apenas uma foto, por exemplo.

Acreditamos que haverá um boom do reconhecimento facial nos próximos dois anos.  A confiabilidade vem aumentando e os preços caindo drasticamente. Sempre monitoramos onde poderemos oferecer um serviço de valor agregado para nossos clientes

Digital Security: A Comba é uma empresa tradicional de telecomunicações e está seguindo esse movimento global de expandir seus negócios para outros segmentos, oferecendo serviços adicionais para seus clientes. Essa quebra de fronteiras é algo necessário para qualquer empresa?

Johnny Brito: Exatamente. Nós atuamos fortemente – e esse ainda é core da empresa – na parte de infraestrutura para telefonia celular, mas também temos uma parte do grupo de Pesquisa e Desenvolvimento que fica monitorando o mercado, tanto para questões de IoT como também para a parte de tecnologia para reconhecimento facial. 

Nós acreditamos que, nos próximos dois anos, haverá um boom na tecnologia de reconhecimento facial. A confiabilidade vem aumentando e os custos vem caindo drasticamente. A tecnologia está cada dia mais acessível para que o usuário comum possa fazer um simples controle de acesso da sua residência.

Nós começamos esse estudo há uns cinco anos, sempre monitorando onde poderíamos oferecer um serviço de valor agregado ao nosso cliente-final. O controle de acesso é um dos segmentos, assim como aplicações de IoT, como rastreamento de gado, de frota ou medições remotas de energia elétrica, por exemplo. 

Há outros segmentos que estamos monitorando, onde enxergamos uma convergência com nosso core, especialmente com a entrada do 5G que diminuirá o custo de integração dos dispositivos à rede e tornará as aplicações mais massivas.

Digital Security: A medida em que as tecnologias de reconhecimento facial se tornam mais conhecidas, cresce também a discussão a respeito da privacidade e proteção de identidade das pessoas especialmente após a aprovação das Leis Gerais de Proteção de Dados no Brasil e na União Europeia. Como a Comba formatou sua solução para mitigar essa preocupação?

Johnny Brito: Nós não ficamos com nenhum banco de dados. Nós lemos o banco de dados do cliente-final e, normalmente, o cliente já possui a autorização para usar essa informação. Se a pessoa é correntista de um banco, ela provavelmente já permitiu que o banco utilizasse sua imagem para acessar sua própria conta em um aplicativo de internet banking. 

O ScanVIS roda por trás disso, ou seja, eu só vou comparar aquela imagem que está sendo enviada com a imagem do banco de dados. Um exemplo que tivemos recentemente foi no Mobile World Congress, o maior evento de telecomunicações do mundo, onde fizemos o controle de acesso. Uma hora após o final da feira, o banco de dados foi destruído, mas isso não foi uma decisão da Comba, mas sim da organização do evento. O algoritmo só compara uma informação de um lado com a informação que está do outro lado e atesta se aquelas informações são verdadeiras ou falsas.

O ScanVis realiza a identificação de aproximadamente 300 pontos na face e depois digitalizamos a imagem para que o arquivo fique bem pequeno. Se estivéssemos comparando banco de imagens mesmo, precisaríamos de um servidor muito potente.

Nós temos o cuidado de somente fazer essa integração com o banco de dados, mas nós não retemos essas informações. E aí esse banco de dados segue a política de segurança e privacidade que essa empresa está aplicando para o seu cliente.

Esse ecossistema vai se integrar cada vez mais. As empresas não vão só oferecer a infraestrutura básica mas também serviços de valor agregado.

Digital Security: Da mesma forma, com a consolidação do ecossistema de Internet das Coisas, sabemos que haverá uma convergência cada vez maior entre as diversas verticais de negócio e o segmento de telecomunicações. Como a Comba enxerga o futuro da conectividade e dos negócios nesse cenário? Qual será o papel de uma empresa de telecomunicações nesse ecossistema?

Johnny Brito: Nós já fazemos parte desse ecossistema, oferecendo a infraestrutura básica de telecomunicações. Hoje, somos uma das maiores fabricantes de antenas e estações rádio-base do mundo. Sem esses sistemas, praticamente seria impossível sequer falar no celular.

Nós acreditamos que, mais do que nunca, esse ecossistema vai se integrar cada vez mais. As empresas não vão só oferecer a infraestrutura básica mas também serviços de valor agregado. No nosso caso, apostamos no reconhecimento facial e na área de IoT, com rastreamento de frotas, de gado e medição remota de energia elétrica.

A tendência é que mais empresas ofereçam soluções completas já que o número de dispositivos conectados cresce exponencialmente. Hoje já existem quatro vezes mais dispositivos do que pessoas e toda essa conectividade  vai trazer uma mudança de conceito e paradigmas em relação a Internet das Coisas e como as empresas vão se comportar no mercado. A Comba já se posiciona hoje como uma das maiores fabricantes na parte de infraestrutura e começamos a oferecer serviços de valor agregado.

Digital Security: Por outro lado, como as empresas de segurança devem se relacionar com a indústria de telecomunicações daqui para frente?

Johnny Brito: Eu acho que já existe uma integração. Há pouco tempo atrás, quando queríamos abrir uma conta em banco, nós precisávamos nos dirigir a alguma agência ou ponto de atendimento. Hoje, já existem instituições bancárias 100% digitais, as fintechs, que já estão usando essas ferramentas de segurança para todo processo digital. 

As empresas de segurança, seja aquela que controla acesso, transporta valores ou faz a vigilância em um evento, já vem usando alguma tecnologia da área de telecomunicações ou que empresas de telecomunicações oferecem no mercado. Um exemplo é a radiocomunicação digital, que traz uma qualidade muito maior e livre de interferências em relação ao modelo analógico. São as operadoras de telecomunicações que propiciam a infraestrutura para que essas empresas de segurança consigam, cada dia mais, oferecer melhores serviços para os seus clientes finais, tornando o ambiente mais seguro.

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