*Sérgio Nunes
A segurança pública é um setor sob constante pressão e que precisa da transformação digital para enfrentar a escala, a complexidade e a imprevisibilidade dos incidentes que são cada vez mais frequentes, diversos e complexos, por isso a colaboração entre as diversas agências desse setor é essencial para garantir a segurança das pessoas e melhorar a qualidade de vida.
A chave para uma colaboração efetiva é a ‘fundação’ tecnológica. Ela garante que todos os serviços de emergência relevantes estejam integrados e recebam a informação necessária em tempo real para a sua mobilização e tomadas de decisão em tempo hábil. Essa ‘fundação’ vem sendo construída na nuvem, e com recursos avançados como a inteligência artificial.
Isso porque os sistemas em nuvem podem auxiliar os serviços de emergência a integrarem todos os sistemas dos quais eles dependem, assegurando a escalabilidade durante grandes incidentes quando mais recursos forem necessários. Nesse sentido, a adoção de estratégias de inteligência artificial assistiva também pode ajudar a melhorar ainda mais as tomadas de decisão para uma resposta mais eficaz.
Integração para superar barreiras
Para simplificar a comunicação e a colaboração entre os serviços de emergência é necessário integrá-los. Contudo, essa não é uma tarefa simples, pois há uma grande variedade de autoridades responsáveis por definir políticas e supervisionar a entrega dos serviços, com diferentes prioridades, atribuições e interesses.
Entretanto, durante incidentes nos quais diferentes agências são envolvidas como, por exemplo, deslizamentos de terra e desabamentos onde bombeiros, defesa civil, polícia entre outros órgãos são acionados, a complexidade e a urgência impõe barreiras no fluxo das informações que, sob a ótica do interesse público, devem ser superadas. Nesse sentido, os sistemas em nuvem podem funcionar como uma ponte entre diferentes agências e autoridades em cada localidade, permitindo que elas atuem com o senso, direção e informações comuns por meio de um único sistema, preparado para atender aos requisitos operacionais e gerenciais de cada organização.
Outra questão significativa é que diferentes organizações possuem diferentes sistemas legados, o que acaba criando mais barreiras para uma integração mais abrangente; outro obstáculo que a nuvem pode ajudar a superar.
As vantagens de sistemas na nuvem e o papel da IA
Há muitas vantagens em migrar sistemas de segurança pública para a nuvem, como os sistemas de atendimento e despacho assistido por computador, que passam a oferecer melhor acesso, conectividade flexível e comunicação por meio de uma plataforma segura e credenciada pelo governo para todas as organizações envolvidas. A mudança para a nuvem ainda possibilita tomadas de decisão mais rápidas e bem informadas por parte dos órgãos de segurança pública, otimizando o uso de recursos uma vez que o profissional certo será direcionado adequadamente quando estiver respondendo a um incidente, o que, por sua vez, aumentará a confiança do público nos serviços de emergência.
As plataformas em nuvem também criam um ponto compartilhado de acesso aos dados, rompeedo barreiras regionais e políticas. Assim, todos os serviços de emergência podem acessar as mesmas informações, seguras e aprovadas, e em tempo real, melhorando a coordenação durante situações críticas e proporcionando maior segurança à população e aos agentes envolvidos pois uma comunicação mais eficiente permite melhor coordenação, mais agilidade e eficácia durante incidentes.
É neste contexto que a Inteligência Artificial também desempenha um papel essencial na transformação digital de serviços de emergência. Em uma sala de controle, essa tecnologia pode agir como um segundo par de olhos, ajudando os profissionais a tomarem decisões mais bem informadas a partir de uma enorme quantidade de informações, e cobrindo ‘pontos cegos operacionais’ que podem passar despercebidos. Embora centenas ou milhares de solicitações possam chegar a uma sala de controle todos os dias, a capacidade humana para analisar grandes quantidades de dados e transformá-los rapidamente em informações relevantes para tomadas de decisão é bastante limitada. As equipes fazem o melhor que podem para capturar, processar e transmitir informações sob pressão, contudo, uma análise mais profunda tende a acontecer somente após o fato, geralmente para informar e melhorar o desempenho futuro.
Sob essa ótica, a IA pode desempenhar um papel positivo. Por exemplo, operadores de atendimento e de despacho, que lidam com dezenas de chamadas durante um grande acidente de trânsito, podem não perceber que um caminhão envolvido em um acidente foi descrito por uma testemunha como um “caminhão tanque”, o que poderia indicar a presença de material inflamável no local e perigo iminente de explosão. Ter essas informações de maneira antecipada pode ser crucial para as equipes de polícia, bombeiros e ambulâncias enviadas ao local. Sendo assim, um componente de IA que analisa os dados de diferentes fontes em tempo real pode sinalizar esse detalhe e alertar todos os agentes de despacho, os quais poderão avaliar a situação e informar as equipes de campo, para que elas tomem as precauções necessárias.
No entanto, a inteligência artificial sozinha também tem os seus limites. Na resposta a incidentes, a tomada de decisão sempre será função e responsabilidade do ser humano, visto que a IA atua como uma força multiplicadora mas nunca substitui o julgamento e a intuição humana quando decisões rápidas são necessárias.
Quando se trata da adoção da transformação digital nas respostas às emergências, existem próximos passos bem definidos que devem ser adotados pelas agências de segurança pública, entre eles, o uso da nuvem para o compartilhamento de informações entre agências à medida que elas reagem aos incidentes. Além disso, a implementação de tecnologias emergentes de IA podem informar melhor as agências quando elas se deparam com eventos críticos, e todas as informações podem ser compartilhadas na nuvem.
A disseminação dessas tecnologias trará vários benefícios ao público e aos servidores, uma vez que ações mais inteligentes e responsivas permitem salvar mais vidas.
*Vice-presidente sênior da divisão de Segurança, Infraestrutura e Geotecnologias da Hexagon na América Latina.
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