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DS Entrevista: Bruno Jouan, diretor da Segurpro

Por Gustavo Zuccherato

Entrevistamos o diretor da nova empresa do grupo Prosegur para entender o porquê e quais os impactos desta mudança estratégica.

Com presença em todo o território nacional, a Prosegur se tornou uma das líderes nacionais em vigilância e transporte de valores. Em dezembro, a multinacional anunciou a criação de uma nova marca, a SegurPro, com foco total em segurança. Conversamos com Bruno Jouan, diretor da nova companhia, para entender o que muda daqui em diante.

Confira essa entrevista em vídeo

Digital Security: Por que a Prosegur realizou essa mudança estratégica de criar uma marca para tratar especificamente a segurança?

Bruno Jouan: A Prosegur já está há muitos anos no país com presença em todo o território nacional, sendo bastante conhecida por seus serviços de vigilância e transporte de valores. São dois negócios muito enraizados no mercado nacional e, embora também atuemos na área de tecnologia já há muitos anos como uma das principais integradoras do país neste segmento, a imagem da empresa Prosegur nunca foi associada à um conjunto de tecnologia, vigilância e transporte.

Hoje, com a SegurPro, nós estamos muito mais focados em tecnologia aliada à segurança patrimonial com foco em inovação, que é o que vai direcionar nossa estratégia para o futuro deste negócio.

Trata-se de uma empresa 100% de vigilância ativa, patrimonial e tecnologia de segurança integradas, enquanto a Prosegur continua com a sua expertise em transporte de valores.

Digital Security: Quais foram as mudanças na estrutura do grupo Prosegur aqui no Brasil para atender essa nova marca?

Bruno Jouan: Começamos por uma mudança na estrutura organizacional da companhia com a criação da empresa SegurPro, com uma nova identidade visual e focada nos segmentos de vigilância patrimonial e tecnologia, para realizar uma segmentação de investimentos.

Internamente, nossa área comercial já nasce muito robusta com mais de 150 colaboradores espalhadas pelo Brasil, vendendo as duas soluções integradas. Antigamente, nós tínhamos uma área comercial que tocava a área de tecnologia e outra área comercial regionalizada que tocava a vigilância. Agora, a estratégia a nível Brasil é com uma única unidade, ou seja, toda a nossa estrutura comercial vai vender tanto a vigilância como a tecnologia, de forma que possamos expandir nossa capilaridade de atender o mercado: indiferentemente de qual posição geográfica a oportunidade e o cliente esteja, nós estaremos presentes. Neste sentido, fizemos uma nova busca de profissionais que aliassem o conhecimento dessas duas atividades.

Operacionalmente, temos uma operação focada na vigilância e uma operação focada na tecnologia mas de forma presente em todos os estados do país, compartilhando essa grande estrutura com mais de 26 filiais que nós temos, para conseguir fornecer uma solução completa na ponta indiferente do estado que o cliente esteja.

A grande diferença de atuação em relação ao que tínhamos com negócios separados é que a SegurPro nasce para fornecer a solução end-to-end de segurança para o cliente, relacionando tecnologia e vigilância em uma solução customizada para a sua necessidade – este é o nosso grande diferencial de mercado.

A SegurPro nasce para fornecer a solução end-to-end de segurança para o cliente, relacionando tecnologia e vigilância em uma solução customizada para a sua necessidade.

Digital Security: Quais são as principais verticais de atuação da SegurPro no Brasil?

Bruno Jouan: Temos uma carteira de clientes consolidada de mais de R$ 1,5 bilhão de faturamento recorrente, com alguns segmentos muito importantes, como o bancário, mineração, petróleo e gás e a indústria de forma geral. Acreditamos que temos que manter essa base e crescer em alguns outros segmentos-chave que tem muito espaço para a empresa.

Aeroportos, por exemplo, é um destes segmentos-chave. Nós somos uma empresa de referência no mercado aeroportuário europeu, mas no Brasil, hoje, não atuamos em praticamente nenhum aeroporto. Com a privatização dos aeroportos, temos um poder de conhecimento técnico e de fornecimento de material, tanto tecnológico quanto humano, que pode agregar valor a essas novas parcerias que estão sendo feitas.

Outro segmento que é muito importante são os portos, que movimentarão o mercado daqui para frente por conta da nova legislação. É uma área que conhecemos muito, baseado na ISPS Code [norma internacional de segurança para controle de acesso e monitoramento de portos], tanto na área de tecnologia mas também na de segurança patrimonial que a gente pode aportar muito valor ao parceiro.

Por fim, também há as rodovias, onde temos atuação muito forte no Brasil, mas muito mais na Espanha, com tecnologia e homens para a operação das rodovias e das praças de pedágio.

Essas são os nichos de mercados que eu enxergo que terão um nível de crescimento mais acelerado e que fomentarão o nosso objetivo de chegar à um faturamento anual recorrente de R$ 2 bilhões até 2020.

O setor automotivo é outro mercado que estamos acompanhando de perto e esperando a nova legislação. Agora, com o crédito que está vindo e uma taxa de juros mais baixos, acreditamos que esse setor irá movimentar a economia nos próximos três anos.

Digital Security: Quais são as orientações da equipe comercial e de tecnologia da SegurPro para atuar nessas verticais de mercado?

Bruno Jouan: Esse é um grande investimento que a Prosegur está fazendo desde que chegou aqui. Nós temos grandes parcerias com grandes empresas de educação. No ano passado fizemos uma parceria com a Fundação Dom Cabral para fazer o treinamento desse time e neste ano temos formado outras parcerias de treinamento com o objetivo de transformar essa venda de commodities em uma venda consultiva.

O sucesso de atuação neste mercado de segurança não é a venda de um produto de prateleira, mas sim entender a necessidade do cliente, qual é o plano do cliente para aquele negócio e aí tentar aportar e agregar valor entregando algo customizado para ele. Para isso, é preciso conhecimento e estamos treinando esse time para entender essa realidade.

Também temos trabalhado junto com as empresas de RH para traçar um novo perfil comercial e já conseguimos contratar mais de 20 novos colaboradores, com previsão de mais contratações pelo Brasil, já com esse novo foco. Nós fizemos um investimento expressivo de mais de um R$ 1 milhão na educação e no treinamento técnico e de consultoria desses profissionais. Enxergamos que tudo isso vai ser o diferencial da SegurPro, porque um negócio é feito por pessoas e se não investirmos nelas, não conseguiremos trazer esses negócios para a empresa.

Contratamos novos profissionais e investimos mais de um R$ 1 milhão na educação e no treinamento técnico e de consultoria da nossa equipe comercial para fornecer soluções customizadas e integradas aos clientes

Digital Security: Quais são os principais parceiros comerciais e de tecnologia da SegurPro?

Bruno Jouan: Como uma empresa integradora de sistemas de tecnologia, temos algumas soluções próprias que são desenvolvidas por nossa equipe de Pesquisa e Desenvolvimento e por empresas que adquirimos na Europa mas nunca de um ponto de vista de hardware, mas sim de software, como uma customização ou integração.

Além disso, trabalhamos com os principais parceiros globais de tecnologia, podendo citar exemplos como a Genetec e a Bosch, que são parceiros que a gente trabalha muito próximo a nível global e os produtos nos trazem um retorno muito positivo para o negócio. São parcerias tanto comerciais como técnicos que nos ajudam a não deixar o cliente na mão.

Digital Security: Como está estruturada essa equipe de pesquisa e desenvolvimento do grupo Prosegur?

Bruno Jouan: Existe uma estrutura de P&D na Europa, basicamente na Alemanha e na Espanha, com alguns direcionamentos. Hoje, esse grupo está muito focado em soluções de cibersegurança.

Além disso, temos soluções de integrações de algumas ferramentas que nós utilizamos de forma corporativa com alguns dos parceiros comerciais. Neste sentido, há soluções de nuvem desenvolvidas pela Prosegur utilizando produtos de terceiros, como câmeras e controle de acesso, combinadas com a solução de software da Prosegur. A ponta de desenvolvimento regional surge das demandas que nossos clientes solicitam, de forma a facilitar uma ponte com esse grupo de P&D no exterior, para que o investimento seja priorizado e solucionemos as dúvidas o mais rápido possível para trazer a solução ao cliente.

Digital Security: Você pode citar um exemplo de alguma necessidade específica aqui no Brasil que gerou um desenvolvimento de solução?

Bruno Jouan: São demandas muito mais relacionadas a parte de legislação que obrigam a ter alguns controles que em outros países não tem e integrações de alguns ERPs específicos dos nossos clientes que fazemos de forma local.

Outro ponto que é muito importante, onde investimos bastante em desenvolvimento e estamos lançando agora é o uso de veículos autônomos. Temos um drone indoor que faz toda uma rota de mapeamento dentro de um shopping center, por exemplo, de forma totalmente autônoma. O software de controle foi totalmente desenvolvido por nós. Foi uma demanda a nível Espanha mas que compartilhamos e desenvolvemos em conjunto.

Aeroportos, portos e rodovias são os nichos de mercados que terão um nível de crescimento mais acelerado e que fomentarão o nosso objetivo de chegar à um faturamento anual recorrente de R$ 2 bilhões até 2020

Digital Security: É interessante você falar sobre veículos autônomos porque existe um senso-comum que diz que a tecnologia irá substituir o trabalho humano no futuro. Você enxerga isso acontecendo principalmente no mercado de vigilância?

Bruno Jouan: Este é um tema um pouco complexo e polêmico. Entendemos que a tecnologia não vai acabar com empregos, mas vai gerar empregos mais qualificados para manter e para operar essa tecnologia. Acredito que não há uma relação de “um para um”, onde enquanto eu coloco uma tecnologia eu substituo um posto de trabalho.

O que nós enxergamos e podemos provar é que conseguimos reduzir os custos de forma otimizada para o cliente com o auxílio da tecnologia. É possível reduzir a conta para o cliente ao mesmo tempo que entregamos mais segurança unindo o mundo da tecnologia e a mão de obra qualificada. Não existe uma relação de troca do posto de vigilante por uma tecnologia, porém é necessário uma qualificação dessa mão de obra.

Digital Security: Quais são as demandas tecnológicas que uma empresa como a SegurPro tem atualmente?

Bruno Jouan: Uma demanda crescente de tecnologia que tem futuro são os veículos autônomos, principalmente para fazer vigilância patrimonial em áreas de difícil acesso, onde há interface com rios, mar ou até mesmo floresta. Vivemos em um país continental e, as vezes, por estarmos em uma cidade como São Paulo não enxergamos as necessidades que alguns clientes podem ter. A SegurPro, no entanto, tem clientes no Acre, em Rondônia, em Manaus, em todos os lugares e esses veículos, sejam terrestres ou aéreos, podem trazer mais segurança para o cliente e diminuir os riscos de vida para os vigilantes. Temos feito diversas provas de conceito nos clientes e já estamos pro fechar alguns grandes projetos com essa tecnologia.

Digital Security: Quais tendências tecnológicas a SegurPro enxerga como as mais promissoras?

Bruno Jouan: Eu acho que a Internet das Coisas realmente veio para ficar. Já é uma realidade fora do país, mas ainda precisamos ter um servidor de IoT que faça sentido. Hoje, com os custos de telefonia, acaba sendo de difícil aplicação para o nosso negócio mas já estão vindo novas empresas de telecomunicações para vender o serviço, principalmente de Narrowband, onde conseguiremos utilizar os equipamentos e aí poderemos deixar de ter sistemas especificamente naquele cliente e começar a utilizar nuvem para gestão.

Neste sentido, podemos pensar em quase todos os sistemas de forma geral, com exceção do vídeo que precisa de bastante banda para transmissão. Acho que, hoje, o controle de acesso, o monitoramento de dispositivos e a localização de equipamentos para controle de ativos podem se aproveitar muito da Internet das Coisas. O IoT abrirá um campo de atuação muito grande para nós.

Digital Security: Como a SegurPro enxerga a questão do Estatuto da Segurança Privada que está em tramitação no Congresso Nacional?

Bruno Jouan: Estamos ansiosos para que esse estatuto seja aprovado.

Há alguns pontos que eu não gostaria de comentar mas três deles são importantes. A primeira é a criminalização das ações contra os vigilantes, que garantirá uma maior segurança para nossos vigilantes.

Em segundo lugar, há a penalização criminal de empresas que atuam com vigilante armado que não sejam empresas de segurança, protegendo esse setor, considerando que existem uma série de certificações e cuidados necessários.

Por fim, há a abertura para utilização da tecnologia dentro das empresas de segurança. Hoje temos empresas diferentes de vigilância e tecnologia, mas esse novo estatuto permitirá que uma única empresa consiga utilizar a tecnologia, sendo totalmente alinhado com a estratégia para o futuro da SegurPro, unindo esse mundo ao de vigilância.

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