Home Reportagem Painel debate como fomentar o mercado brasileiro de IoT para além dos sensores na Futurecom 2018

Painel debate como fomentar o mercado brasileiro de IoT para além dos sensores na Futurecom 2018

Por Gustavo Zuccherato

Críticas à velocidade do governo para atender os rápidos ciclos de inovação foram contrapostos às iniciativas e casos positivos pelo país

Como um dos grandes temas da Futurecom 2018, a Internet das Coisas teve mais um painel de discussão dedicado a explorar as formas de impulsionar os modelos e soluções IoT para os negócios no terceiro dia de congresso. Unindo provedoras de conectividade, fornecedoras de soluções tecnológicas, setor público e associações, o debate teve o objetivo de examinar as possibilidades pensando nas especificidades do cenário brasileiro e de qual caminhos devem ser seguidos.

A diretora de inovação e fomento da ABES Software, Jamile Sabatini Marques, começou o painel com uma apresentação sobre as formas de financiamento da economia IoT, citando especialmente as linhas do Plano Nacional de IoT ligado ao BNDES, o FINEP IOT e o cartão BNDES.

Como novidade, a ABES e a ABGI Brasil estão trabalhando na elaboração de um “Guia de Fomento à Inovação do Setor de TIC” que irá orientar sobre todas as linhas de financiamento, separado por perfis de faturamento de cada empresa e linhas mais adequadas para cada necessidade. “A ideia é ajudar o empresário a se encontrar e saber onde pode buscar recursos”, disse a diretora. O material deve estar disponível gratuitamente no próximo dia 6 de novembro no site da ABES Software.

Em seguida, foi a vez de Thiago Camargo Lopes, secretário de políticas digitais do Ministérios das Ciências, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC), apontar as evoluções dos esforços políticos em favor da Internet das Coisas. “A mudança da secretária de informática para uma secretária de políticas digitais faz parte da estratégia brasileira de transformação digital e expande nossa capacidade de tratar sobre temas como IoT”, disse. “O governo tem que transformar suas políticas em uma oferta tecnológica de inovação. Já temos estudos que indicam que cada governamental digitalizado chega a custar apenas 3% de um serviço analógico, como um agendamento de consulta médica, por exemplo”.
Falando especificamente sobre a regulação do setor de IoT, Lopes relembra projetos de lei que estão em tramitação na câmara dos deputados, como a PL 7656/2017, que pretendem diminuir valores de contribuição para fundos como Fistel e Funtel e flexibilizar as formas de homologação prévia na Anatel para os sensores IoT. “Há sensores que são tão pequenos que não teriam espaço nem para os atuais selos da Anatel. Seria preciso investir em nanotecnologia para desenvolver uma nova tecnologia de selo de certificação, até por isso a própria Anatel aprovou essa proposta. Além disso, considerando a possibilidade de escala desses dispositivos, a ideia seria dispensá-los por amostragem e não um a um”.

O secretário também teceu críticas às políticas atuais, considerando-as ineficientes para fomentar a inovação. “O governo investe muito dinheiro com uma estratégia de produzir hardware no Brasil. Isso ajuda a proteger o mercado em partes, mas não tem funcionado muito como estratégia de internacionalização. Mantermos a Lei de Informática do jeito que está causará atrasos”, pontuou. “Hoje, as tecnologias que são desenvolvidas aqui tem que ser patenteadas lá fora, com processos que demoram mais de 5 anos para serem concluídos. As empresas que investem em P&D tem que cobrar um posicionamento do governo quanto a essas questões. É preciso beneficiar o inovador brasileiro. Temos que fazer com que essa pessoa não seja mais refém de uma lei antiga e corporativista”.

Thiago Camargo Lopes, secretário de políticas digitais, teceu críticas à ineficiências das políticas atuais para acompanhar a velocidade de inovação no setor IoT

Como alternativa ao pensamento centrado nos sensores IoT, os painelistas contribuiriam com uma visão mais abrangente sobre como é possível crescer baseado no desenvolvimento de camadas de inteligência para esses dispositivos. “Se observarmos o IoT de fim a fim, existe uma camada de inovação de grande valor nessa cadeia, que está cai extremamente bem com aptidão do brasileiro no desenvolvimento de software. Existem muitos sensores, mas precisamos das plataformas”, disse Edvaldo Santos, diretor de pesquisa, desenvolvimento e inovação da Ericsson.

Neste sentido, ressaltou-se também a importância dos clusters de inovação que tem sido formado por todo país, centrados principalmente na união das universidades públicas com o setor privado. “Vemos várias universidades funcionando como pólos para inovação e para a formação de novas startups”, disse Rodrigo Parreira, CEO Latam da Logicalis. Entre os exemplos citados estão a ESALQ, da USP em Piracicaba/SP, com ampla especialidade em ciências agrárias, e o INATEL, em Santa Rita do Sapucaí/MG, que tem liderado pesquisas sobre como levar conectividade 5G para os locais mais remotos do país.

Além desta questão, Tatiana Medina, CIO da Klabin, relembra que, ainda assim, os produtos físicos e serviços para implantação e manutenção serão necessários para possibilitar o IoT e alerta que “isso tem custos agregados que muitas empresas e industrias não estão dispostas a colocar”. Para ela, é preciso discutir como fomentar o debate dentro das empresas para formar regiões de apoio e inovação, como o conhecido Vale do Silício nos EUA.

A alternativa, segundo Elisabete Couto, diretora de IoT na Embratel, é pensar no IoT como uma oferta de melhoria de vida e redução de custos para as empresas. “Ninguém vai investir em tecnologia somente pela tecnologia. O empresário deseja ver como o negócio dele consegue ser mais eficiente. O gestor público quer saber qual vantagem isso trará para o cidadão”, disse. “Enquanto o provedor de tecnologia não conseguir entender o negócio do cliente, ele não conseguirá ajudá-lo”.

O painel ainda discutiu a importância da construção de conectividade para possibilitar o IoT e como essa questão esbarra nas competências de cada esfera de governo. “O Plano Nacional de IoT está longe de ser um plano só de tecnologia. É um plano para, através da tecnologia, alcançar uma saúde melhor, para as cidades terem mais segurança, para a agricultura ser mais eficiente e para a indústria ser mais produtiva”, reforçou o secretário de políticas digitais. “Mas essa articulação para no límite da legislação do município porque a lei define que é o município que tem a competência para definir como isso vai ser feito e não há como educar um governo municipal – a população elege e eles fazem o que quiserem e se propuseram a fazer para se eleger. O que precisamos é de uma sociedade organizada que cobre o governo sobre esse compromisso de melhorar a qualidade de vida”.

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