Por Paulo Santos*
O modelo reativo de gestão dos serviços públicos tem um custo difícil de perceber. Quando um semáforo fica verde durante dois minutos sem que nenhum carro passe, enquanto a rua transversal está lotada de motoristas que perdem 3h no trânsito por dia num engarrafamento evitável, há uma perda financeira invisível. Esse impacto econômico é mais evidente ao analisar todos os serviços prestados ao cidadão.
O modelo proativo de gestão é a lógica por trás do conceito de Smart City. A cidade se torna um mapa vivo gerando informações numa multiplicidade de pontos
Quando a previsão é de tempo seco e a poluição se agrava, fazendo as pessoas lotarem os postos de saúde com problemas respiratórios e menor perspectiva de vida, há um prejuízo não-contabilizado. Quando a falta de monitoramento incentiva motoristas a conduzirem acima da velocidade permitida e ocorrem atropelamentos ou quedas de moto que requerem cuidados emergenciais e cirurgias, há uma conta a pagar pelo contribuinte. Quando um paciente com ferimentos leves é levado pela ambulância a um centro de atendimento crítico superlotado, também há uma gestão ineficiente dos recursos públicos. Assim como há um custo difícil de calcular quando uma cidade sustenta índices baixos de solução de crimes pela dificuldade de investigação policial. Esse é o peso oculto da gestão pública reativa.
Já o modelo proativo de gestão é a lógica por trás do conceito de Smart City. O gerenciamento inteligente de incidentes implica uma detecção rápida e automática de ocorrências numa cidade, e até mesmo uma detecção de indícios ou tendências antes que algo ocorra. Essa detecção antecipada pode ser feita por câmeras e sensores (de poluição, radiação, identificação de tiroteio, estilhaço de vidro etc.), que geram alertas. A cidade se torna um mapa vivo gerando informações numa multiplicidade de pontos. Essas informações podem, por um lado, levar a uma tomada de decisões em prol da otimização imediata dos recursos públicos. Por outro lado, elas ajudam a desenvolver um trabalho preventivo que reduz custos a longo prazo.
Quando o poder público entende a real gravidade das ocorrências, consegue evitar deslocamentos desnecessários.
Um dos bons exemplos de redução de custo no conceito de cidade inteligente é o sistema de iluminação. Para poupar energia, a iluminação nas ruas pode ser ajustada conforme o tráfego de veículos e pedestres. Outro exemplo é o uso de botões de emergência em áreas de grande circulação de pessoas e veículos: o cidadão aperta um botão iluminado para chamar diretamente uma central de controle, com a qual se comunica por áudio e vídeo apesar do ruído no entorno. Quando o poder público entende a real gravidade das ocorrências, consegue evitar deslocamentos desnecessários.
Um terceiro exemplo é a agilidade na captura de veículos roubados. A vítima reporta o roubo (usando, por exemplo, um app) e, na hora, a polícia fica sabendo por onde o veículo roubado está passando, graças à tecnologia de leitura de placas. Em seguida, monta-se um bloqueio e o veículo é interceptado antes de chegar ao destino, evitando o custo da investigação policial e, inclusive, o custo do seguro do veículo. Em locais com altos índices de roubo de cargas, como o Rio de Janeiro, até o valor da entrega de produtos comprados online é maior para compensar as perdas.
No fundo, uma cidade é inteligente quando favorece a qualidade de vida. E uma administração pública orientada pela prevenção e otimização de recursos consegue fazer mais com menos – e ainda melhorar sua reputação como destino turístico e de investimentos privados.
Paulo Santos
É gerente de soluções da Axis Communications