Infraestrutura de fibra óptica, leilão de faixa de frequências e modelo de negócio ainda são principais desafios da implementação.
Figurando como um dos pontos altos da Futurecom 2018, o painel “Como e quando o 5G se tornará rentável na América Latina?” reuniu executivos de operadoras de telecomunicações e fabricantes de soluções de conectividade e representantes do governo para abordar cronograma, modelo de negócio e os desafios regulatórios e de infraestrutura que ainda precisam ser superados para que a nova tecnologia estreie em terras brasileiras.
O primeiro grande ponto destacado pelos painelistas, como não poderia deixar de ser, foi a questão da disponibilidade de faixas de frequência a serem leiloadas para o 5G no Brasil. “Aqui na América Latina o espectro é uma dificuldade a mais, sobretudo na questão do preço”, afirmou Ana Valero Huete Diretora de Assuntos Regulatórios para América Latina da Telefónica. Segundo ela, os custos dos leilões, taxas de manutenção e as contrapartidas exigidas pelos governos da região começaram a despertar o questionamento nas operadoras se valeria a pena o investimento.
Defendendo uma política consoante às críticas do setor, o Secretário de Telecomunicações do MCTIC André Borges, declarou a intenção de garantir políticas mais brandas para o vindouro leilão da faixa dos 3.5 GHz. “Defendo que temos que ter um leilão não arrecadatório, pois trata-se de uma tecnologia que vai propiciar um crescimento geral da economia e torna-se um investimento do Governo no país, afirmou. A faixa deve ser a primeira oferecida para os serviços de nova geração e tem sua negociação marcada para o segundo semestre de 2019.
Aliás, falando em cronograma, questionado sobre a real disponibilidade de um 5G comercial no Brasil, o Vice-Presidente de Redes da Ericsson Marcos Scheffer traçou uma comparação com os EUA e Europa. “Nos Estados Unidos a Verizon já está começando a comercializar os primeiros serviços de banda larga fixa por 5G ainda em 2018. Na Europa os primeiros terminais móveis em 5G devem ser oferecidos no começo de 2019. Já no Brasil, estamos dependendo da liberação do leilão da faixa dos 3,5 GHz, o que significa que devemos ver uma implementação comercial no início ou meados de 2020”, afirmou.
Há, porém, ainda uma questão de infraestrutura a ser superada para que a implementação seja uma realidade: a questão das redes de fibra óptica. “Não há como ter 5G sem fibras espalhadas pelo pais, pois estaremos falando de transmissores small cells e muitas antenas”, afirmou Mauro Fukuda Diretor de Estratégia, Tecnologia e Arquitetura de Rede da Oi. Para não ficar parado e adiantar o cronograma, o Fukuda revelou que a maioria dos novos transmissores e antenas estão saindo já preparados para o 5G, para que a etapa inicial da implementação seja uma questão de mudança de serviço apenas.
Uma questão de competitividade
A principal urgência das TelCos, e consequentemente das fabricantes de sistemas de conectividade, na implementação do 5G tem fundo comercial. Estima-se que só a transformação digital da indústria deve movimentar 3 trilhões de dólares no mundo todo. No Brasil, onde a demanda de digitalização do agronegócio é urgente, o fato de esta vertical representar mais de 20% do PIB nacional também é um grande atrativo para os ganhos do segmento de telecomunicações.
Há, porém, uma preocupação legítima com questões de competitividade e produtividade nacional. “Essa transformação do 5G não é uma luta por mais velocidade de internet, é por maior competitividade do país frente à outras economias que vão se tornar mais produtivas antes do que o Brasil”, afirmou Leonardo Capdeville Vice-Presidente de Tecnologia da TIM.
Além disso há a questão da economia trazida diretamente para a sociedade. “São Paulo tem 12 mil ônibus em circulação diária consumindo 1 bilhão de reais em combustível ao ano. Se pudéssemos conectar estes ônibus para garantir maior inteligência de frenagem e aceleração, a economia estimada seria na casa dos 40%. Estamos falando de 400 milhões de reais somente em uma cidade”, exemplificou Wilson Cardoso Chief Solution Officer da Nokia.
Apesar de toda a pressa, porém, ainda há muita dúvida em como as operadoras vão trabalhar comercialmente esta solução, uma vez que esta rede com muito mais cara de infraestrutura e pensada para conectar coisas, não pessoas, não sustenta-se somente com assinaturas de ponto de acesso. “A monetização do 5G ainda não foi definida. Fica claro que os modelos tradicionais funcionam quando falamos de pontos de banda larga fixa ou móvel, mas ainda estamos estudando as melhores formas de vender estes serviços”, revelou Ana Huete