Painel colocou operadoras e fornecedoras para discutir as possibilidades, desmistificar dificuldades e apresentar os passos para esse mercado
Bem distante dos cenários apocalípticos de ficção científica, a Inteligência Artificial já é um assunto que permeia a vida humana nas suas mais variadas formas. A um “Ok Google” ou “E ai Siri” de distância, a vida cotidiana já incorpora em plenitude a interação com as IAs.
A Inteligência Artificial tal qual o grande público tem conhecido através dessas assistentes virtuais são fruto de anos de estudos, pesquisas e desenvolvimentos ininterruptos da academia e de grandes empresas de tecnologia que aproveitam os recursos computacionais para melhorar seus processos de negócio e a relação com seus clientes. Por isso, a Futurecom 2018 dedicou um dos seus principais painéis do segundo dia de congresso para o tema.
Sendo o principal ponto de encontro do mercado de telecomunicações, operadoras como TIM, Vivo/Telefônica e Embratel se uniram às fornecedoras Ericsson, Nokia e Accenture para debater como as empresas devem se preparar para essa nova era.
Mediado pelo coordenador acadêmico da FGV, André Micelli, o encontro visou mostrar como a inteligência artificial está inserida em um contexto mais amplo de transformação digital, passando por questões como as barreiras culturais, assuntos legais, éticos, o processo e as experiências de cada participante na implantação em seus negócios.
“A ideia foi criar um roadmap para que empresas de tamanhos diferentes possam enxergar o uso de inteligência artificial em suas operações e que também possam criar um plano de adoção desses projetos em suas empresas”, disse Micelli. “A impressão de que a Inteligência Artificial é mais usada em grandes empresas do que em pequenas e médias é correta. Temos dados de que existem projetos de IA em andamento em 14% das empresas em geral e em 47% das empresas grandes. Apesar disso, 80% dos gestores dizem que IA vai ser um tema estratégico para sua empresa nos próximos dois anos. É um sinal claro que devemos enxergar nos próximos anos uma grande adesão dessas pequenas e médias que, hoje, estão fora do jogo”.
Neste sentido, uma das principais dificuldades levantadas na discussão do painel foi a questão cultural das pessoas ainda não entenderem as possibilidades que o IA pode trazer. De acordo com Ailton Santos, head da Nokia Software na América Latina, essa questão que pode ser superada através da apresentações de casos de uso. “Esse é o momento onde você foca primeiro no cliente e nas necessidades que pode atender ou benefícios que pode oferecer e, a partir daí, você faz sua estratégia. Quando você deixa de fazer discussões apenas de tecnologia, processos ou modelo de negócio, a questão cultural é deixada mais de lado porque o cliente, seja um usuário-final ou uma empresa, passa a ver vantagens na implantação do IA em sua vida”.
Até por essa questão, o painel foi recheado de exemplos de casos práticos, indo desde a capacidade de atendimento de clientes via linguagem natural com o WhatsApp desenvolvido pela Accenture, até as capacidades de reconhecimento de padrão de consumo para antecipação de ofertas da Nokia, e passando por otimizações na área jurídica da Vivo, de cibersegurança preditiva da Embratel e de atendimento a equipe de técnicos em campo da TIM. “Identificamos que havia muita demanda e tempo gasto de call center para prestar auxílio aos técnicos em campo. Por isso, criamos uma solu;áo para o técnico baseado em Google Go onde plugamos o Watson da IBM para fazer o aprendizado automático, e conseguimos diminuir em 70% os chamados e tempo gasto no atendimento ao apoio de campo”, disse Leonardo Capdeville VP de Tecnologia da TIM.
Se o painel ainda poderia render muitas horas de conversa sobre cada ponto polêmico, nebuloso ou promissor sobre o mundo baseado em IA, uma certeza que deixou é de que ela deve ser tratada de uma maneira mais universalizada no futuro, remodelando as relações de trabalho e com o mundo à nossa volta. “Ainda se pensa no IA como elemento de inovação. Queremos passar a pensar como um elemento transversal, algo tão indispensável como a energia elétrica para a evolução pessoal e a convivência em sociedade”, ressaltou Robert Duque, líder da Accenture Applied Intelligence para América Latina.