Painel debateu os desafios técnicos e o trabalho da inclusão digital para cidades conectadas.
Não há dúvidas que a crescente discussão e fomento sobre a Internet das Coisas tem provocado um boom de sensores espalhados por todos os lugares. De câmeras de segurança, sistemas de controle de acesso e alarme de invasões perimetrais à pluviômetros, dispositivos de indicação de disponibilidade de estacionamento e semáforos digitais, tudo promete um nível maior de inteligência para qualquer ambiente, especialmente os urbanos.
Para debater o tema, a Futurecom 2018 promoveu na tarde deste segundo dia de congresso o painel “Como as cidades usam as novas tecnologias para o benefício dos seus moradores” colocando integradores de tecnologia, academia e o poder público em um bate-papo para discutir os casos práticos já em funcionamento, a atuação dos órgãos governamentais e as possibilidades futuras.
De acordo com o Eduardo Moreira da Costa, professor da UFSC, o conceito de cidades inteligentes passa pelo uso de sensores para benefício dos moradores, mas isso acaba limitando a ideia nos projetos. “Existe uma fixação muito grande em torno dos equipamentos e não dos benefícios que eles trazem. Por isso buscamos o Human Smart Cities, que privilegia o cidadão. Não interessa quantas câmeras tem em uma região, mas sim se ela é segura. Não importa se o semáforo é inteligente, mas sim a mobilidade das pessoas”, afirmou.
“Na linha de cidades humanas, ao fornecer tecnologia para uma cidade, é preciso ter um lado da administração pública para a mobilidade, segurança, visando o retorno do cidadão”, concorda Ricardo Carrion Mansano, Executivo da Huawei. “Para que uma cidade seja inteligente, a tecnologia precisa suprir as necessidades básicas, e segurança é a primeira delas. Mas a câmera é só um sensor, é preciso ter a inteligência para suportar isso”, completa.
De fato, não há como falar sobre Cidades Inteligentes sem colocar o ponto da Segurança Eletrônica como prioridade, principalmente em um país com as estatísticas do Brasil. “A cidade de Tigre, na região metropolitana de Buenos Aires, há 7 anos fibrou toda a cidade, distribuiu mil câmeras e implementou inteligência artificial nas estações. Após um ano já registraram uma queda de 40% nos índices de roubos de veículos. O acumulado até 2018 chega a 82%”, contou Wagner Coppede Diretor de Soluções e Engenharia da NEC.
Apesar de os benefícios do investimento direto em segurança serem inegáveis, o conceito de Smart Cities abre a possibilidade de um benefício ainda maior: a da interconexão de diferentes serviços. “A discussão sempre começa com a segurança, mas acabamos falando de maneira isolada também de iluminação, mobilidade e acabamos esquecendo que elas conectam-se entre si. É preciso haver conectividade entre segurança, iluminação e mobilidade urbana. Esta tecnologia já existe”, afirma Ricardo Mansano.
Outro ponto é a preparação do cidadão para tomar partido das vantagens tecnológicas. “Não existe cidade inteligente sem cidadão conectado. Há grande demanda das prefeituras que querem implementar seus próprios projetos, mas precisam também facilitar as regras locais para que as empresas possam expandir sua infraestrutura”, comentou Maria Teresa de Azevedo Lima Diretora Executiva Embratel.
De fato, o próprio representante do Governo no painel criticou a pouca agilidade legal do Brasil quando o tema é tecnologia. “Temos quase 300 diferentes leis para antenas, isso é um problema. É preciso ter uma discussão profunda, pois não dá para traçar um planejamento estratégico assim”, afirmou Américo Tristão Bernardes, Diretor do Departamento de Inclusão Digital do MCTIC. Segundo Bernardes, o MCTIC tem procurado discutir a contratação de conectividade e as políticas para impulsionar o avanço da oferta de acesso. “O X da questão é a construção de uma cultura digital na cidade, que permita que os cidadãos sejam produtores de conteúdo e não só consumidores passivos”.
Por fim, Eduardo Costa destacou que é preciso encarar os desafios macro e parar de pensar somente na implementação da tecnologia. “Há alguns anos discutia-se em Florianópolis como faríamos para construir uma nova ponte ligando a ilha ao continente para desafogar o trânsito. Perdeu-se tanto tempo nas tecnicidades que acabamos esquecendo que o problema não era construir uma ponte, era levar pessoas de um lado ao outro, o que um serviço de barcas, como os usados no Rio de Janeiro, poderia resolver com uma fração do custo da construção de uma ponte”, brincou.