Parceria do Disque Denúncia do Rio de Janeiro com a The Staff of Technology Solutions permitirá que cerca de 1.100 dos mais perigosos criminosos do Estado sejam identificados nas câmeras integradas à plataforma de reconhecimento facial Facewatch
Se a comunicação é a alma de qualquer operação de segurança, a informação é como o coração pulsante repleto de sangue que permite que cada um dos órgãos de um corpo – as entidades e agentes de proteção e combate ao crime – continuem funcionando por completo.
Seguindo a analogia, a tecnologia aliada ao trabalho humano de inteligência representa mais um elemento essencial neste mecanismo vivo: o cérebro, com sua eficiência analítica para ajudar a captar os fluxos sanguíneos e direcionar as ações de cada célula para o melhor funcionamento do ser vivo que é a sociedade.
Dito isso, o estado do Rio de Janeiro acaba de desbloquear mais uma parte do seu cérebro com uma parceria anunciada no final de 2018 entre o Disque Denúncia e a empresa The Staff of Technology Solutions para permitir a busca de criminosos por meio de câmeras com reconhecimento facial.
Modelo de negócio permite o compartilhamento de informações e blacklists entre vários clientes de maneira segura, automatizada e inteligente
Possibilitada pela evolução das capacidades de processamento dos servidores e dos dispositivos na ponta, a Inteligência Artificial surgiu como um verdadeiro potencializador do cérebro das operações de segurança, sendo uma realidade presente na maioria dos projetos atuais mais avançados. As possibilidades ofertadas pela capacidade de reconhecimento automático de movimento, de cores e formatos, com identificação facial e de caracteres – apenas para citar alguns exemplos – trazem um nível muito elevado de resposta a incidentes, dando as bases para uma segurança muito mais proativa de maneira mais fácil e eficiente, além de estabelecer novos modelos de negócio e serviços para as mais variadas verticais.
Por outro lado, os altos custos e a complexidade técnica de um projeto de IA tem criado verdadeiras ilhas. Células potencialmente mais protegidas, mas isoladas do restante do corpo. Uma rede supermercadista, com sua blacklist de potenciais ameaças, dificilmente conseguirá compartilhar este banco de dados de maneira segura, automatizada e inteligente com um shopping vizinho que, provavelmente, enfrenta os mesmos desafios.
Para mudar essa realidade e unir o setor público e privado em um processo de segurança colaborativo, os sócios da Staff, Matheus Torres e Humberto Bambirra, trouxeram ao Brasil o Facewatch, uma renomada plataforma em nuvem de reconhecimento facial que tem inovado a prevenção de crimes, furtos e controle de acesso em diversos países do mundo.
Nascida no Reino Unido em 2010, a solução é certificada pelo National Cyber Security Centre (NCSC), pela ISO 27001 e pela Secured by Design (SBD), uma iniciativa de padronização para licenciamento de soluções de segurança da policia britânica, atestando a confiabilidade e eficiência para uso oficial pelas organizações de combate ao crime de toda a união europeia.
Tais certificações ajudaram a Facewatch a estabelecer parcerias com diversos órgãos de segurança britânicos, como a Scotland Yard, a MI5 e a MI6, para ter acesso as bases de dados de criminosos procurados e disponibilizá-los para seus clientes. Assim, os usuários do Facewatch ganham capacidade de identificação de ameaças para além da sua própria blacklist e, como contrapartida, as policias expandem os seus olhos para todos os feeds de vídeo integrados na plataforma.
Com isso, uma vez que algum criminoso passar por alguma dessas câmeras, ele será automaticamente identificado e um alarme silencioso é disparado para as autoridades mais próximas do local, que passam a monitorá-lo até a possibilidade de sua prisão da forma mais segura possível, talvez até mesmo sem disparar um único tiro.
Tropicalizada
O Facewatch é mais bem definido como um centro de controle seguro e on-line, que oferece notificações de criminosos e permite o compartilhamento de informações. Para isso, a plataforma aposta no uso do reconhecimento facial das câmeras de CFTV conectadas à nuvem, oferecendo acesso a um portal web tanto em desktops como em dispositivos móveis. Segundo Matheus Torres, que assina como diretor de operações da The Staff of Technology Solutions, atualmente o Reino Unido já conta com milhares de câmeras integradas à plataforma Facewatch.
Além disso, o software também permite o upload de relatos de testemunhas, evidências digitais, visualização de dados estatísticos de crimes e a possibilidade de se juntar a outros grupos de monitoramento através de uma interface simples.
No Brasil, com uma capacidade de investimento menor e infraestrutura de rede muito aquém do que é encontrado na Europa, a plataforma precisou passar por diversas adaptações para funcionar com a mesma velocidade e eficiência encontrada por lá. “Quando eu e meu sócio resolvemos trazer o software para o Brasil, precisamos nos transformar em um verdadeiro laboratório de desenvolvimento e, de certa forma, redesenhar a plataforma”, destaca o diretor.
De acordo com o executivo, na versão anterior do Facewatch, o sistema subia a foto em nuvem, processava e fazia as comparações com os bancos de dados para depois emitir os alertas caso a pessoa estivesse cadastrada em uma das blacklists.
Nesse processo de tropicalização da plataforma, o processamento da imagem passou a ser feito no servidor do cliente, transformando-a em um código binário de pouquíssimos bytes que é comparado linha-a-linha com os bancos de dados em nuvem, economizando em termos de exigência de banda e trazendo mais velocidade para a operação como um todo. “As fotos exigiam algo em torno de 40 kbytes, enquanto os códigos giram em torno de 3 a 4 kbytes. Isso diminuiu o tempo de resposta do software – ou seja, o tempo que a pessoa passa em frente à câmera até o momento que o sistema emite o alerta – de 55 segundos na primeira versão para cerca de 5 segundos”, explica Torres.
Apesar deste processamento local, Torres garante que os pré-requisitos para o funcionamento da plataforma são bastante baixos, podendo rodar inclusive em um desktop simples que qualquer empreendimento tem de dezenas até centenas e até com conectividade 4G.
“Hoje, muitos dos recursos que foram desenvolvidos em parceria com o Reino Unido são baseados na realidade brasileira e passaram a ser parte do software padrão na Europa, como a contagem de pessoas, a identificação da câmera específica que gerou o alerta e os alertas visuais e sonoros na plataforma”, destaca o executivo.
Além disso, o diretor de operações da Staff ressalta que a falta de padronização na instalação de CFTV e as estruturas difusas dos clientes são um desafio a parte na realidade brasileira. “Dentro de um mesmo cliente, já presenciamos situações onde uma parte da instalação estava toda com fibra óptica, com a rede toda certificada, conexão de internet de alta velocidade e câmeras de boa qualidade posicionadas de maneira que permitia o reconhecimento facial, enquanto que em outra parte mais antiga havia o cenário inverso, com cabeamento quebrado, internet que não chegava aos pontos necessários, câmera muito alta e distante, entre outros aspectos”, explica.
Por isso, os representantes da Staff sempre realizam uma consultoria prévia para analisar as necessidades do cliente e se o empreendimento possui os pré-requisitos básicos para o funcionamento da plataforma. “Muitas vezes, os clientes deixam os prestadores de serviços costumeiros deles de lado e nós mesmos assumimos qualquer necessidade de adaptação na infraestrutura de segurança, talvez por eles entenderem que trata-se de uma solução mais robusta e com necessidades específicas, mas isso depende de cada cliente”, relata Torres.
A The Staff Of Technology Solutions aposta na parceria com a Amazon Web Services (AWS) para a máxima disponibilidade da sua plataforma em nuvem em todo o Brasil, ficando responsável pelo armazenamento, a segurança e a comunicação das bases de dados com os sistemas nos clientes.
Além de poder integrar qualquer câmera IP à plataforma, comercializando o Facewatch em modalidade Software-as-a-Service (SaaS), a companhia também já formatou um totem pré-embarcado com câmera, um mini-servidor e conectividade 4G para permitir a implantação da tecnologia em qualquer ponto que o cliente queira.
“Normalmente instalamos um monitor a mais no Centro de Comando e Controle do cliente para ele acompanhar os alertas em tempo real na plataforma Facewatch, com o software VMS aberto ao lado”, explica Torres. “Nós optamos por não integrar o Facewatch diretamente aos softwares VMS porque isso poderia atrasar o alerta, já que precisaria passar por mais uma etapa dentro do software antes de ir à plataforma. Uma vez dado o alerta, o operador já consegue acompanhar a trajetória do suspeito com o software VMS padrão”.
Parcerias brasileiras
Foram essas evoluções tecnológicas da ferramenta que auxiliaram no estabelecimento das parcerias no Brasil. No caso do Rio de Janeiro, o Disque Denúncia já possuía uma base de dados aberta que já estava integrada ao Facewatch. A parceria, firmada em dezembro, oficializou e disponibilizou a base de dados completa, com cerca de 1.100 criminosos mais perigosos do estado.
“Nós realizamos uma prova de conceito, levando o totem para demonstração do funcionamento da tecnologia e realizamos diversos testes baseados nos critérios estabelecidos pelo Disque Denúncia. Passamos em todos, o que permitiu que estabelecêssemos essa parceria”, destaca o executivo.
Segundo Torres, atualmente já existem câmeras de reconhecimento facial em três shoppings do estado carioca, além de diversos outros edifícios comerciais, normalmente posicionadas nas principais áreas de circulação, entradas e saídas. No final de ano, um traficante procurado pelo Disque Denúncia foi reconhecido e preso em um shopping por meio do sistema, que alertou forças de segurança, que o detiveram, sem oferecer resistência. “Só em um dos shoppings que é nosso cliente, há 16 câmeras integradas à nossa plataforma. No final de ano, foram capturadas mais de 2,7 milhões de rostos com esses 16 dispositivos”, exemplifica Torres.
O Facewatch já pode ser implementado em qualquer cliente público ou privado de todo o país. “O que acontece é que clientes que estão em um estado onde nós ainda não firmamos convênio com a Secretaria de Segurança Pública usarão apenas a sua própria blacklist”, disse. “Por outro lado, caso haja um cliente que tenha sedes em mais de um estado, ele ainda poderá aproveitar todos os bancos de dados que temos convênio em todas as suas instalações, caso seja de seu interesse”.
A Staff atualmente possui revendas no Rio de Janeiro, Goiás e Rio Grande do Sul, onde já firmou parcerias com as secretarias de segurança pública para a integração dos banco de dados, além de Minas Gerais e Distrito Federal, mas já está prospectando mais 5 estados do país para firmar as devidas parcerias e estabelecer seus representantes locais.
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